quinta-feira, 29 de maio de 2008

CONCLUSIVA


CONCLUSIVA
Oswaldo Antônio Begiato

não tenho saudades
de quase nada
a não ser
do tempo em que,
embriagado de pólen,
fui flor,
fluí flor;
flor incurável
que durou uma juventude
inacabada

eu tinha cor
eu tinha cheiro
eu tinha luz

eu tinha um tinteiro
escarlate
onde mergulhava
meu caule rígido
encharcando-o de sangue
espesso e grave
para escrever poesias
que hoje estão gravadas
nas paredes dos jardins
que já não existem mais

tudo se consumiu
entre o tempo que não passou
e a alegria que nunca
pude provar
com meus lábios roxos
e minha face pálida

porque foi com lesões
deformações
e murchamentos
que a vida escreveu minha história
no meu próprio corpo

hoje estou um baú
que carrega dentro de si
apenas o sentimento do vazio
e todo o meu resto incomunicável

Um comentário:

ana wagner disse...

O peso de baú que carregamos é grande demais pra ser levado sozinho.
Temos que pedir ajuda, aceitar ajuda e para isso existem ,também, os amigos. Que teu peso seja muito leve meu poeta! Grande e carinhoso beijo!
Ana W