sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

COSEDURA

COSEDURA
Oswaldo Antônio Begiato

Olhem este dedal!
De dedos frágeis
e olhos penetrantes,
guarda uma aliança
e esconde um arroio.

Olhem esta agulha!
De linhas tênues
e força mulheril,
guarda um alinhavo
e esconde um palheiro.

Olhem estas mãos!
De dedos frágeis,
e de linhas tênues,
guardam uma vida
e escondem o amor.
 
 

domingo, 22 de dezembro de 2013

MAIS OUTROS HAICAIS

HAICAIS
Oswaldo Antônio Begiato
 
 
 
POESIA

Seca a boca busca
No paladar a palavra.
Ah! Soberbo verbo.

 REGRESSO

O mar e seu braço;
Cais certo de aportamentos.
A chegada é doce.

 RESPONSABILIDADE

A semente é livre
Mas a apanha obrigatória.
Cobrança da vida.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

CUIDADO!

CUIDADO!
Oswaldo Antônio Begiato
 
Não queira
a loucura de um poeta
entender .
 
Aquilo que loucura
parece ser
é lucidez,
e é loucura
aquilo que
lucidez parece ser.
 
Loucura das brabas.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

HAICAIS

HAICAIS
Oswaldo Antônio Begiato
 
OUTONO
 
O beijo na boca;
Maturescência do amor
Revelando o sabor.
 
PRIMAVERA
 
Abotoamentos;
Natureza se agitando,
Desejo de cio.
 
FEVEREIRO BRASILEIRO
 
A escola, a avenida...
Eis o carnaval na carne;
Solta a liberdade!
 
NAMORO
 
À praia, seu bem,
Promete mil beijos.
O doce salgado mar.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

PARAGEM APENAS

PARAGEM APENAS
Oswaldo Antônio Begiato
 
Não faço parte
da paisagem,
faço parte
da passagem.
 
Sou penugem,
sou asas,
não tenho casa,
não tenho causa.
 
Ando por aí,
andarilhando pensamentos,
ladrilhando caminhos...
 
Não me permito falsidade.
Ser feliz não me é prioridade.
 
Quero a liberdade
que somente a verdade
e a tristeza
me concedem.
 
 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

MAIS HAICAIS



MAIS HAICAIS
Oswaldo Antônio Begiato

ATAVIO

A flor no cabelo,
O andar cheio de malícia;
Meu amor, onde andas?

DESCURO

Só agora chegaste
Papai Noel descuidado?
Não sou mais menino.

INDESEJÁVEL RESIGNAÇÃO

Logo ali é nação,
Aqui povo conformado.
Pura alienação.

CORPOS

Na baia, o vento;
Na mesa, fogo e paixão;
Velas que se movem.

ÂNGULO DE VISÃO

Verdade ou mentira?
Uma parece com a outra;
Ilusão de ótica.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

HAICAIS

Oswaldo Antônio Begiato


AH, O AMOR!

O fim sempre é dúbio.
Morre-se de amor eterno
Ou de solidão.

INVERSO

Saudável tempero.
A saudade é o sal da idade;
Quanto mais, melhor.

CINE VITÓRIA

Luz, câmera, ação;
Marcelino pão e vinho.
Rami pequenina.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

CAIXA DE MAÇA

CAIXA DE MAÇÃ
Oswaldo Antônio Begiato
 
Meu coração está podre
de paixão.
 
Como um coração podre
estraga todos os outros
que estão dentro da caixa de poesias,
é preciso tirá-lo de lá.
Já.
 
Ou então lê-lo com muita atenção.
 

domingo, 24 de novembro de 2013

HAICAIS

Haicais
Oswaldo Antônio Begiato
 
PENSAMENTO
 
Lavrador vencido;
Unhas longas, olhos curtos...
A terra se esconde.
 
MONACAL
 
Arcadas do claustro
Olham monjas e seus hábitos.
Hábitos de santas.
 
CARTOLA
 
Eis uma flor tímida;
Ela brotou na favela.
As rosas não falam.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

OUTROS HAICAIS


OUTROS HAICAIS
Oswaldo Antônio Begiato
 
DUALIDADE

Abelha inconstante;
Ora mel, ora ferrão,
Assim como o amor.

ABRAÇO

O abraço é um matador
Cuja arma única é o calor.
Se finda a saudade.

MOTO CONTÍNUO

Eu sou e não sou.
Nasço e morro. Morro e nasço.
- Minha impermanência.

 

 

sábado, 9 de novembro de 2013

À JANELA

À JANELA
Oswaldo Antônio Begiato
 
o alho
se mostra
ao olho
 
o olho
à boca
dá molho
 
será esta
a seresta
ou a réstia
de luz
que pela janela
entra
voando
como um pássaro
e recitando
de cor
os poemas
de Federico?
 
ou será esta
a réstia
de luz
que pela janela
entra
rompendo
a escuridão
como um cometa
projetando
na alva parede
as películas
de Federico?

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

OUTROS HAICAIS

OUTROS HAICAIS
Oswaldo Antônio Begiato

RAPUNZEL
O ventre do vento
Gesta no alpendre a mulher.
- Anúncio de flores!


BRASILEIRA
Antônio, sanfona,
Pedro, fogueira, São João...
Eita inverno bom!


SIGNO DO AMOR
Encontro de lábios;
No horizonte da paixão
O beijo se pondo.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

ALGUNS HAICAIS



ALGUNS HAICAIS MEUS


CARPINTEIRO

A sopa... O vinho
Madeira – mesa artesanal.
Cheiro de meu pai.

 
COM POUCO SE VIVE

Na palma da mão
Anda um dragão pequenino.
Abundância em grão.

 
MINHA NAMORADA

Repleto de flores
O alpendre guarda a mulher.
- Ó, meu doce amor!
 


 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

POETA E MULHER

Participei de um concurso promovido pela Academia Feminina de Letras e Artes de Jundiaí e fui classificado com essa poesia:


POETA E MULHER
Oswaldo Antônio Begiato

Tu me vens agora
Com jeito de poeta
E força de mulher.

A língua ardendo em palavras
Cauterizando todos os outros sons;
A boca cuspindo vulcões
Dentro de minhas certezas frias.

Vens com o corpo em brasa,
Avivada pela brisa feroz
De teu sexo brasileiro,
Querendo derreter
O ferro de meu coração
E transformá-lo num rio de lava.

Como poeta
Investigas meus instintos,
Fracionas minhas muralhas,
Divisas minhas resistências
E revolves meus segredos.

Como mulher
Sacodes meus nervos,
Eriças meu couro rígido,
Impregnas minhas veias com fogo
E me beijas um beijo impávido.

E sendo assim, de tal tamanho a invasão,
Que não há em mim homem que aguente tanta febre;
Então traduzo-me em carne e poesia,
Sem rimas, sem culpas,
Sem regras, sem suplícios.

Traduzo-me livremente.







http://aflaj.com.br/aflaj/

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

VISITA ESPERADA


VISITA ESPERADA
Oswaldo Antônio Begiato

 

Quando o sol chegar
Diga que precisei sair
(fui atrás de olhos visionários
e uma frase leviana)
Mas que logo voltarei.
Que ele, por favor, me espere.

Abra as janelas,
As portas,
Afaste as cortinas.

Ofereça a casa a ele,
Sem restrições,
E deixe-o bem à vontade,
Pois, quando eu chegar
Quero lhe dar meu corpo em carne viva
E minha umidade etérea.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

DESLUMBRAMENTO

DESLUMBRAMENTO
Oswaldo Antônio Begiato
 
Um dia descobriu
que para trocar pneus furados
os homens contavam com a ajuda de macacos.
 
Sem compreender muito aquilo,
ficou encantado, mesmo assim.
 
Quando viu,
a primeira vez que foi ao circo,
aquele macaquinho
andando de bicicleta
e fazendo micagens pelo picadeiro
lembrou-se da perícia deles com pneus furados
e alumbrou-se eternamente.
 
Foi então que decidiu convicto
nunca mais deixar de ser feliz.
 

terça-feira, 30 de julho de 2013

VILA RAMI


VILA RAMI
Oswaldo Antônio Begiato

Amar é ramar.

Ramar é um verbo
que eu inventei.

Significa criar ramos,
criar raízes.

Significa ramificar
(de em Rami ficar,
minha aldeia).

Logo amar é ramificar
e é também em Rami ficar.