quarta-feira, 31 de março de 2010

MUNDO DA LUA


MUNDO DA LUA
Oswaldo Antônio Begiato

Eu vivo no mundo da lua;
Sou amigo particular do dragão
E tomo cerveja com São Jorge
Nas noites em que, cheia,
A Lua imita o uivar dos lobos.

Sou noivo da estrela cadente;
Ouço todos os pedidos secretos
Dos jovens com os sonhos em rebuliço
E quando brincamos na Via Láctea
Peço a ela que una os corações sensatos
Com a dobradiça das paixões dementes.
- Ela me obedece e eu a amo ainda mais.

E quando estou absorto no mundo da lua
Morro de paixão por ela,
Minha pequenina estrela menina,
Que achei cadente no meio do meu olhar,
No meio do meu olhar triste e solitário.

domingo, 28 de março de 2010

PIPA E PIÃO


PIPA E PIÃO
Oswaldo Antônio Begiato

que seu passar seja imagético
como são imagéticas
a sensualidade de teu cheiro
na minha imaginação:
- as imagens do teu corpo perfumado
distribuído em curvas atordoantes
de cá pra lá
de lá pra cá
flutuam na minha cabeça
como uma pipa que
vai ao céu
e volta
vai ao céu
e volta
até quebrar a linha e se entregar
rodopiando
rodopiando
à linha do horizonte sem curvas

terça-feira, 23 de março de 2010

PACIÊNCIA


PACIÊNCIA
Oswaldo Antônio Begiato

Não sei se é um novo amor
Que faz esquecer as dores
De um amor antigo que partiu,
Ou se é o tempo que,
Das dores de amor,
Cuida com seu passar vagaroso.

Não sei se é Deus
Que de tudo cuida,
De todas as feridas,
( as de desamor e as de amor),
Ou se quem de tudo cuida é o tempo,
Com seu passar vagaroso.

Seja quem for que cuide
Dessas dores todas,
Exige de nós paciência.
Muita paciência.

E assim vamos todos nós
Andando na corda bamba
Nesse circo de espantos
Onde somos pássaros indefesos.

terça-feira, 16 de março de 2010

CASO RARO


CASO RARO
Oswaldo Antônio Begiato

Somos um caso raro:
- Somos gomos de um ovo,
Ano novo sem fogo no rabo.

E essa rosa?
E essa roda?
E essa moda?

E o tal cravo?
E o tal trato?
E o tal prazo?
Onde está o vaso?

Sente a aorta?
E a corda?
E a porta?
E a orla?

Só as ondas nos levam.
As estrelas do mar nos desejam.
- Arrebentação!

Somos marítimos:
- Mar de ritmos,
Martírio mútuo.
- Tumulto!

E esse sol?
E esse chão?

Vêm eles
Do mesmo lugar?
Do mesmo luar?

Chão árido sem ritmo.

Mas saiba
Que toda vez
Que, com altivez,
Me arrancas de mim
(erva tenra que sou da terra)
Volto rente,
Volto diferente:

- Mais doído,
Mais doido,
Mais moído,
Mais caolho.

Réstia de alho.
Réstia de sol.
Restos de volta:
- Revolta!

E aí vejo
Tudo sem ângulo,
Engulo teu ego,
Viro por dentro
Carnaval de teu ritmo,
Mar de teu chamar,
Martírio,
Lírio... Lírio!

- Viro lírio viril. Delírio!

sexta-feira, 12 de março de 2010

quarta-feira, 10 de março de 2010

SEXO SEM NEXO


SEXO SEM NEXO
Oswaldo Antônio Begiato

e foi na borda
do corpo de cristal
onde o champanhe
escorreu pelo dorso
escorreu entre os seios
da bunda côncava
que vi a forma exausta
dos gozos exatos
depois de sorver
com meus poros
g
o
t
a

a

g
o
t
a
os arrepios que não eram meus

a partir desta escultura
passei a te aguardar
guardando-me
em sótãos impermeáveis
como aguardente
ardendo de amor
me queimando por dentro
e por fora e por cima e por baixo

te borrando com minhas cinzas
ias deixando restos de seu rosto
em meu riso sem juízo

quarta-feira, 3 de março de 2010

QUE ASSIM SEJA!


QUE ASSIM SEJA!
Oswaldo Antônio Begiato


Eu, que agora me isolo
Nos jardins de suas cercanias
Com a missão de cuidar de seus canteiros,
Do resto da vida abro mão.
De nada mais preciso.
Basta-me meu amor:
- Meu imenso amor por você.

Farei de mim jardineiro,
Servo devotado de suas anteses,
Remexendo suas terras,
Podando seus excessos,
Regando suas raízes.

Multiplicarei suas mudas
Com cuidado de pai,
Com devoção de mãe.
Espalharei seus polens
Com as mãos postas,
Com os pés submissos.
Proteger-lhe-ei dos predadores
Com redomas e venenos.
Afastarei de você as ervas daninhas
Com espadas e enxadas.

Adubarei seus passos
Com súplicas vastas.
Todo dia lhe colherei flores
Para adornar a alcova de meu amor:
- Meu imenso amor por você.

Que assim seja!

Com a água de dores
Que faço verter de meus olhos,
Manter-lhe-ei úmida e saciada.
Ferir-me-ei com seus espinhos,
Embriagar-me-ei com seus perfumes;
Matar-me-ão o tétano e a cirrose,
Mas a cada último suspiro
Ressuscitarei homem incansável
E fecundador pleno.

Que eu nunca perca de vista
Seus olhos florescidos
Nem deixe de provar
A gravidade de suas pétalas.
Que eu nunca lhe deixe sentir
Saudades minhas
Nem viajar pelas esperanças
Sem minha presença.

Que meu trabalho me mantenha fiel;
Que fiel se mantenha meu amor:
- Meu imenso amor por você.

Que assim seja!