quinta-feira, 26 de agosto de 2010

SEGREDO DE POLICHINELO


SEGREDO DE POLICHINELO
Oswaldo Antônio Begiato

Frágil, tenho medo de que revele
O segredo que lhe deixei
Guardado dentro de nosso beijo.

Quebro-me fácil dentro de sua boca;
Meus pedaços lhe entrego, sem defesas.

No meio deles, os ruídos;
Nos ruídos, a sintonia;
Na sintonia, as semibreves,
Nas semibreves, as sílabas;
Nas sílabas, as conjunções;
Nas conjunções, minha carne;
Na carne, o beijo irreversível;
No beijo, o segredo que lhe deixei.

Frágil, tenho medo de que o revele.

domingo, 22 de agosto de 2010

SACIAMENTO E PAZ


SACIAMENTO E PAZ
Oswaldo Antônio Begiato

Vulcão ativo que és, com teu inesgotável amor
Explodindo no cume das nossas existências,
Ejaculas larvas de dentro de tua medula;
Larvas que o fogo das lavas não matou.

Elas lavram o campo de nossas esperanças;
Transmutam-se em borboletas coesas,
Lavam nossos ventres impuros e estéreis
E, sem dor, nos engravidam de trigo e trégua.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

BLEFES


----------------------> O Menino da Lágrima, de J.Bragolin


BLEFES
Oswaldo Antônio Begiato

Não consigo gostar
desse jogo de baralho
onde abundam
sotas de ouro,
valetes de paus,
e blefes insólitos.

Enquanto ás de espadas
eles se acomodaram
dentro de uma cesta,
na hora da sesta,
sexta passada.

Macambúzio e rei de copas,
vou me mandar
para São José dos Ausentes
onde o frio é intenso,
o amor também
e não tenho parentes.

E que me tragam
uma jovem virgem
(ela chegará virgem
e virgem partirá)
para me aquecer,
dentro de uma cesta,
na hora da sesta,
sexta que vem,
feito Davi, o rei,
na sua velhice.

Não quero mais chorar de frio.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

FUNERAL


FUNERAL
Oswaldo Antônio Begiato

Derramem sobre minha pele
um jarro de perfume suave
e esperem a noite chegar.

Durante a noite enfeitem
o meu corpo com tintas claras;
o leito de morte
com as flores mais meninas,
fecundadas em afetuosos toques
pelo vento brejeiro,
cuja gentileza se fez semeadura
por entre meus cabelos
e cuja brandura,
obrigação cotidiana nossa,
amantes que fomos.
Deitem minha carne na jangada.

Estarei então pronto. Ateiem-me fogo.
Aquecido partirei
nos curtos braços do amor.
Com meu corpo em chamas
descerei a correnteza do rio até me consumar.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

BEIJO DE LUZ AZUL

--------------------------->Menino Pedinte, obra de Juliana Motzko

BEIJO DE LUZ AZUL
Oswaldo Antônio Begiato

tirei de meus armários
os esqueletos empoeirados
e ao tempo confiei para airá-los

vesti-os com flores amadurecidas
e estrelas prateadas caídas do espanto
nos olhos deixei entrar verdades cristalinas
e aqueci os ossos com abraços incandescentes

dentre todos eles muitíssimo belos
escolhi para mim um pequenino
mirradinho e caladinho
que tinha no sorriso uma noviça ilusão
de onde partia em direção à minha boca
um beijo de luz azul

um beijo infinito de luz azul