segunda-feira, 29 de setembro de 2008

LINDA ROSA AMÉLIA

LINDA ROSA AMÉLIA
Oswaldo Antônio Begiato

lenda rasa Amélia,
lenda e rasa,
Amélia e rasa,
Amélia e linda;
amelindo,
amelindas,
amá-la sempre...
Amélia ou lenda?

linda rosa amarela,
linda e rosa,
amarela e rosa,
amarela e linda;
amar é lindo,
amarelindas,
amarelinda...
rosa ou amarela?

Ai, que vontade de voltar a ser garoto
e escrever versos rotos e marotos!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

APAIXONADA

APAIXONADA
Oswaldo Antônio Begiato
.
Vens e dizes estar
Dissolutamente apaixonada.
Que sou tua reta e indivisa vida,
Que todas as tuas pertenças
São agora minhas pertenças:
Teu riso incontido,
Tuas lágrimas safíricas,
Teu sexo sequioso,
Teus descaminhos justos,
Teus arrependimentos tolos,
Teu coração indômito...

Até tuas mais incertas tristezas
Juras que me pertencem.
Juras que me pertencem
Todas as tuas juras.

E fico eu cá no meu canto
Tentando buscar a razão disso tudo.
O que em mim pode ter te encantado tanto,
Se sou, dentre os grãos dourados
Da areia da praia, o menorzinho
E você quase contém o mar todinho
Apenas em um único e terno olhar?

Teria sido a poesia que fingi escrever,
Ou os encantamentos delatores
Que de meus olhos escaparam
A primeira vez que te encontraram
Vestida de primavera e sol?

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

NOSSO IMORTAL AMOR

NOSSO IMORTAL AMOR
Oswaldo Antônio Begiato

Toma essa folha
branca
de papel
virgem,
que um panapaná
deixou cair,
de suas asas
coloridas,
em meu colo
de noivo.

Nela escreva,
com suas mãos
de noiva,
seu nome,
com letras
douradas,
e depois
escreva
uma poesia
lírica,
com letras
corridas.

Por fim
escreva
meu nome,
sem maiúsculas
e sem acentos
agudos.

É esse o ritual
que outorgará
ao nosso amor
imortalidade.

sábado, 13 de setembro de 2008

REGADIO


REGADIO
Oswaldo Antônio Begiato

Por aqui, hoje sim chove,
Mas é uma chuva doce e necessária,
Como doce e necessária
Faz-se a solidão à minh’alma segada.

Havia muito pó pra pouca estrada,
Muita boca seca pra pouca água,
E muito germinar pra pouco regadio.

Havia muita presença pra pouco coração,
Muitas palavras pra pouco ouvido
E muito estorvar pra pouca paciência.

Tua perversa permanência nas minhas horas quietas
Saqueavam-me os horizontes lúcidos
Banindo-os de meus olhos rasos de regalos.

Foste fátua.
Sensata, foste.

Quero agora ficar só.
Cabeça entre as pernas.
Um meu abraço em mim mesmo
Abraçando pernas e cabeça.
Olhos cerrados.
Deixar que minha boca se umedeça
Com a chuva fresca que me faz germinar
E que minha alma se entorpeça
Pelo silêncio que me restou santo
Com tua partida tardia.
Com tua partida vadia.

Tenho por aqui chuva e solidão doces e necessárias.

sábado, 6 de setembro de 2008

TROCA

TROCA
Oswaldo Antônio Begiato

Onde foi que viu meu rosto lindo?

No espelho petrificado pelo tempo
ou no retrato hirto
que deixei preso
à galeria de meu passado?

Viste-o com olhos?
Com olhos também lindos?

Eram tempos em que
eu os tinha ainda,
rosto e olhos, airosos
e não os escondia.

Eram lindos,
eram longínquos...

Não os tenho mais.

Perdi-os para a tristeza,
essa senhora tinhosa
e mais velha do que a verdade,
que os iludiu e os levou embora
sem a minha permissão.

Sem piedade.

Deixou em seus lugares
uma distância instransponível,
uma deformação sem alcances
e uma criança que jamais fui capaz de recuperar.

Foi bom,
porque assim pude, ao menos,
afastá-la de mim,
para sempre.

Hoje não tenho mais olhos lindos,
no rosto que também foi lindo um dia.

Hoje os tenho livres,
límpidos e venturosos.