quinta-feira, 26 de maio de 2011

ZÉS


ZÉS
Oswaldo Antônio Begiato

No tempo do zagaia
(meu amigo Zé dizia tempo do Zé do Gaio)
havia umas rosinhas
feitas por doceiras com amêndoas e clara de ovo
para enfeitar bolos de noiva;
rosa, azul, branca, verde...

Eu era criança
nem ligava para o bolo,
só queria saber delas, as rosas;
chamavam-se marzipã
(meu amigo Zé dizia Maria do Zé Pão).

Eu gostava de ouvir as coisas novas da língua que meu amigo Zé inventava.
Eram tempos de muitos Zés e poucas escolas.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

QUIMERAS E VEREDAS


arte: wado

QUIMERAS E VEREDAS
Oswaldo Antônio Begiato

poetas são luas
poetas são
loucos

poetas são ruas
poetas são
poucos

poetas são poetas
poetas são
poetas

quarta-feira, 11 de maio de 2011

MEU PAI, MEU POETA!


MEU PAI, MEU POETA!
Oswaldo Antônio Begiato

Meu pai foi poeta sem nunca ter escrito um único verso.
Poeta do amor mais puro e profundo que já vi.

No dia em que completei trinta anos
mandou buscar para minha mãe a orquídea mais bonita de Jundiaí.
O cartão dizia que há trinta anos ela o tinha feito, pela primeira vez,
o homem mais feliz do mundo
(sou o primeiro filho deles).
Minha mãe disse com todo encanto do mundo:
- Como você é bobo, Milton! E riram um riso casto.

Minha irmã caçula, depois de onze outros partos de minha mãe,
nasceu no dia nove de maio de mil novecentos e setenta e um
(dia das Mães, naquele ano).

Meu pai deu a ela o mesmo nome de minha mãe Regina – Rainha.
Quando chegou com a certidão de nascimento em casa
minha mãe com o mesmo encanto de sempre disse:
- Como você é bobo, Milton! E riram um riso casto.

Quando estou muito triste gosto de imaginar
o quanto de poesia ele fez entre o primogênito e a caçula deles. E rio. Apenas rio.

Com eles aprendi que poetas são bobos.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

NA RUA DE MINHA CASA


NA RUA DE MINHA CASA
Oswaldo Antônio Begiato

Enquanto o Reino Unido se encantava com o casamento de seus príncipes,
No agora deserto de meu pequenino reino,
Formado por paralelepípedos, asfaltos e concretos,
Uma maria-sem-vergonha decidiu nascer dentro do bueiro
(Oásis inóspito de um progresso desenfreado ).

Nasceu cor-de-rosa com pintas brancas.
Lá dentro foi se fazendo feminina;
Vestiu-se como uma promessa atrevida
E rindo foi brincando com o impossível.

De flor assim tão frágil
nunca vi tanta meiguice.
Nunca vi tanta coragem.