segunda-feira, 27 de agosto de 2012

IRASCÍVEL

IRASCÍVEL
Oswaldo Antônio Begiato

Há em mim vácuos impreenchíveis
pedaços meus arrancados à força
e lançados no espaço vazio
entre corpos indesejados.

Essa sensação de estar isolado
entre tantas pessoas,
entre tantas gargalhadas,
entre tantas viagens
enerva meus sentidos
e minhas mãos tremem.

Já não posso tocar piano,
nem enfiar a linha na agulha,
nem manter o copo cheio,
nem escrever meu nome na linha do tempo...

Já não posso com elas dizer um adeus seguro
(eu não quero por ora dizer adeus).

E as flores?

Ai, as flores, as doces e meigas flores,
tão ternas e tão belas e tão coloridas e tão cheias de poesias...
Eu nunca quis
me encantar com elas;
elas duram pouco
e eu estou cansado de sofrer
com perdas inesperadas
(eu não quero por ora dizer adeus).

Ando me aninhando com ilusões vagarentas
porque sei que morrerei primeiro;
o caminhar delas me ilude fazendo pensar
que o tempo é lento e que a vida é longa.

Assim sob a luz indo e vindo
entre a entrada e a saída do túnel
vou reiniciando sempre
e iludindo o fim
que me hipnotizou
pelo resto da vida
(por ora, e só por ora, não posso dizer adeus).



sexta-feira, 17 de agosto de 2012

RENUNCIAÇÃO


RENUNCIAÇÃO
Oswaldo Antônio Begiato

Amor,
vim buscar
minha presença.

Minha amputada
e doída presença
porque
de tua ausência
longa, fria e pesada
eu desisti.

Vim, pois,
buscar a presença imolada
pelo teu proposital abandono.