terça-feira, 29 de setembro de 2009

TANTO É


TANTO É
Oswaldo Antônio Begiato

Tanto é
Que estou aqui de mãos postas,
Pernas em genuflexão e olhos alagados
Fingindo rezar uma prece de luz em plena obcecação.

Tanto é
Que não sei o fuso horário;
O dia, o mês e o ano em que estou pulsando.
Fiquei atemporal, sem medidas e incorpóreo. Intangível.

Tanto é
Que não tenho residência fixa.
Não tenho cadastros. Não tenho verdades.
Carrego somente as sombras que me conspurcaram.

Tanto é
Que já ultrapassei minha permanência,
Diluindo-me em partidas intolerantes à volta.
Não penso e não existo mais. Sou espectro. Fio de vida.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

EU TE DESEJO UM SONHO


EU TE DESEJO UM SONHO
Oswaldo Antônio Begiato

Desejos são coisas simples:

Andar de mãos dadas no meio da noite,
Fazê-la parecer nunca terminar
Enquanto estrelas travessas nos espiam
Remexendo com suas pontas ligeiras
Nossos corações distraídos;

Colher flores amarelas amadurecidas no campo,
Ataviar teus cabelos longos e leves
Enquanto o vento os toca com suavidade
Embalando nossas secretas
Vontades de perdição eterna...

Sonhos, porém, são mais complexos;
Eu por exemplo sonho te fazer feliz.

Viu como é complexo?

domingo, 20 de setembro de 2009

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

VIAGEM


VIAGEM
Oswaldo Antônio Begiato

Que praias selvagens são essas
onde tuas curvas ostentam
despudores?

Que matas virgens são essas
onde tuas vergonhas delatam
indiscrições?

Que desertos abismáticos são esses
onde meus destinos se precipitam
suicidamente?

Que montanhas íngremes são essas
onde minhas mãos serpenteiam
cheias de malícia?

Que lugares fascinantes são esses
delicadamente tatuados em teu corpo
amorenado?

Onde ficam esses lugares inóspitos?
Eu preciso, mulher, conhecê-los
urgentemente!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

TIROCÍNIO


TIROCÍNIO
Oswaldo Antônio Begiato

Aprendi com
as coisas novas,
a compreender
as pessoas velhas.
E aprendi com
as pessoas velhas
a compreender
as coisas novas.

Aprendi com
os homens céticos,
a ter uma fé feroz.
E aprendi com
o fanatismo desmedido
que a descrença
nasce nas crianças
ao lhes ser negadas,
estupidamente, as fantasias
quando as ilusões
lhes são mais necessárias.

Aprendi com
as privações me impostas,
em nome de uma felicidade
assustadora,
a somente ter direito
à felicidade
o dia em que,
com meus olhos
encharcados,
minhas mágoas
forem maiores
que meus sonhos.

Aprendi com
minhas quedas
a suportar a dor
física de meu corpo
porque as feridas
perspécticas d’alma
doem mais,
e sangram
um sangue perene
que não as deixa
estancarem.

Aprendi com a vida
que a vida é breve;
que não há nela
sentido algum
além da brevidade.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

ABRAÇADO PELO MEDO


ABRAÇADO PELO MEDO
Oswaldo Antônio Begiato

Quero trocar essa trincheira onde me colocaram
Menino ainda, com o coração farejando seus rumos,
Por uma bandeira branca na ponta de meu fuzil.

Quero trocar essa farda manchada com o sangue,
Extirpado de minha pele contaminada furtadamente,
Por um terno risca de giz com uma orquídea na lapela.

Em tua boca cálida quero provar um tango vermelho.

Meu Deus, não suporto essa fé pálida e essa luta pávida!