sexta-feira, 29 de outubro de 2010

TANTO, TANTO!



TANTO, TANTO!
Oswaldo Antônio Begiato

Gosto da poesia de versos livres.
Nela, livre, posso inventar um verso raro:
- Eu te amo Esperança -
Sem me ocupar com a métrica das minhas esperas,
Nem trabalhar as rimas que meu amor confesso não tem.
Assim posso, do mesmo modo, livre, inventar outro verso com tamanha raridade:
- Esperança, por Deus, como eu te amo!

Mas bom mesmo é poder dizer, aprisionado no meio dos versos livres,
Como, cativo, lhe digo ao pé do ouvido,
Quando enamorado eu, me faço temporais no oceano dela
E apaixonada ela, se faz turbilhões no meu ramerrão:
- Mulher, eu te amo tanto. Tanto!
(O big bang parece acontecer entre quatro paredes e dois corações.)

domingo, 24 de outubro de 2010

REINÍCIO


REINÍCIO
Oswaldo Antônio Begiato

Como me pediste, farei restauro de tuas obras-primas,
As que o tempo deteriorou por tua falta de cuidado,
E nada cobrarei de ti por isso. Nem um centavo.

Uma condição imponho. Peço que não me cobres
Os olhos tristes que querias ver no meu rosto,
Retrato que são do pouco-caso que me fizeste.

Estão a sete chaves no vácuo de meu desprezo.

Não os darei a ti. Juro que não. Nem que supliques.

sábado, 16 de outubro de 2010

SONETINHO BESTA


SONETINHO BESTA
Oswaldo Antônio Begiato

Correndo, vim aqui lhe mostrar encabulado,
Um sonetinho besta que fiz para você, às pressas,
Com palavras que encontrei, ontem à noite,
Presas por um fio na saudade que me exauria.

Fí-lo por ouvir seu canto no canto escuro do palco,
Por ver o brilho de seus olhos iluminando tudo,
Sem que me visse. Sei que anda zangada
Com o ciúme enlouquecido que sinto de sua voz.

Mas vim mesmo porque queria que soubesse
Que ando seduzido pelo seu canto de cigarra
Dando alívio às minhas noites solitárias de boemia;

E que quero ser, eternamente grato por sê-lo,
A formiga que sustenta com alegria pródiga
As suas fantasias de menina fugaz e volúvel.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

AS FLORES


AS FLORES
Oswaldo Antônio Begiato

As flores rubras,
despencadas da tenra primavera,
amanheceram na poça de óleo
mitigadas por gotas geladas de sereno.
Tão delicadas! Tão flores!

Faziam um reflexo rubro-negro
sobre a profundidade inviolável;
sobre o abismo intemporal;
sobre o infinito inescrutável.
Tão copiosas! Tão flores!

E nada mais no Universo todo
continha tanta doçura e tanta tristeza e tanta eternidade
como aquela imagem solitária abandonada à margem da rua.
Tão infindáveis! Tão flores!