sábado, 31 de maio de 2008

SEM PALAVRAS


SEM PALAVRAS
OswaldoAntônio Begiato

Eu quero ser branco
feito de papel reciclado,
sem quadrículas,
linhas tortas,
palavras,
versos,
rimas,
pontuações,
ou segundas intenções.

Eu quero ser árido
feito de silêncio mortal,
sem gesticulações,
voz rouca,
palavras,
afetos,
abraços,
nenhum calor,
ou nenhuma grande dor.

Eu quero ser triste
feito uma canção inacabada,
sem movimentos,
sons formais,
palavras,
notas,
pautas,
perdidas ilusões,
ou maiores complicações.

A menos que,
com as mãos em conchas,
dilua tuas trevas,
resgate-me de tuas sombras
e recolha meus desencantos
ou liberte-me das palavras
não pesadas,
que sempre dizes,
como uma predadora de sonhos.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

FINIDADE


FINIDADE
Oswaldo Antônio Begiato

Eu queria te fazer carícias no rosto
Com minhas mãos encobertas
Pelo pó, nela pousado
Durante meu caminhar
De homem solitário e inconformado,
Esperando por um único beijo,
Negado desde o meu nascer:
- O beijo da mulher amada.

Sei que a vida inteira me quiseste
Como teu infeliz e só teu eunuco.
Mas devo dizer com todas as letras
Que foram legadas às minhas mãos
Empoeiradas:
- Sou livre e potente.

Nasci para voar dentro dos sonhos
E acreditar que um dia terei esse beijo
Da mulher que meu coração escolher,
Mesmo sabendo-o impossível
Porque nasci sem lábios,
E vou morrer sem lábios.

Um beijo,
Nem que fosse um beijo ligeiro
Feito a prece incônscia do louva-a-deus.
Um beijo,
Nem que fosse um beijo frio
Feito o gotejar acetinado do orvalho.

Mas partiste levando contigo
O desencanto que eu não inventei,
E o sonho que ousei sonhar:
- Um beijo da mulher amada.

Comigo deixaste apenas
Uma espantosa certeza:
Maior que a tristeza de saber
Que nunca me amaste
Foi a alegria de descobrir
Que nunca te amei.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

CONCLUSIVA


CONCLUSIVA
Oswaldo Antônio Begiato

não tenho saudades
de quase nada
a não ser
do tempo em que,
embriagado de pólen,
fui flor,
fluí flor;
flor incurável
que durou uma juventude
inacabada

eu tinha cor
eu tinha cheiro
eu tinha luz

eu tinha um tinteiro
escarlate
onde mergulhava
meu caule rígido
encharcando-o de sangue
espesso e grave
para escrever poesias
que hoje estão gravadas
nas paredes dos jardins
que já não existem mais

tudo se consumiu
entre o tempo que não passou
e a alegria que nunca
pude provar
com meus lábios roxos
e minha face pálida

porque foi com lesões
deformações
e murchamentos
que a vida escreveu minha história
no meu próprio corpo

hoje estou um baú
que carrega dentro de si
apenas o sentimento do vazio
e todo o meu resto incomunicável

quarta-feira, 28 de maio de 2008

POUQUIDÃO

POUQUIDÃO
Oswaldo Antônio Begiato

Dar-te-ia pétalas d´uma avenca preta
E a mais preguiçosa estrela do universo
E dar-te-ia a magia d´um cometa
E o maior diamante na terra imerso.

Dar-te-ia o perfume de nossa gaveta.
Dar-te-ia tudo, mas ando tão inverso:
Sobra-me só o exprimir da caneta
Que me faz poeta sem muito verso.

Sou pobre, pobre... Sequer tenho alegria.
Quase nada sou. Quase sou indigente.
Mas nos meus trapos eu te amo todo dia.

E por nada ter pra te deixar contente
Dou-te então o arroubo de minha poesia:
- É só o que tenho pra te dar de presente.

terça-feira, 27 de maio de 2008

VIAGEM

VIAGEM
Oswaldo Antônio Begiato

Com a trava que de meu olho tirei
Fiz uma canoa, dois remos e um olhar
Com os quais de Sul a Norte
Naveguei... naveguei... naveguei...

Fui em busca de minha sorte
E fui ficando forte... forte...
Um belo dia era eu belo também;
Fora banhado pelo mar,
Penteado pela brisa,
E enfeitado pelas nativas bonitas,
Filhas da praia;
Elas deixaram em meu pescoço
Colares de conchas coloridas.

Assim me fiz marinheiro;
Pelos sete mares,
Com muitos amores
E nenhum porto,
Naveguei... naveguei... naveguei...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

CORES


CORES
Oswaldo Antônio Begiato

Não fossem
o arco íris,
as flores,
as borboletas
e os beija-flores
minhas candências
seriam somente
tardes cinzentas
e meus enlevos
filmes mudos.

Eu não passaria
de um vidro,
conspurcado,
de nanquim preto,
nas mãos
de um desenhista
descuidado.

É dele a imagem,
em branco e preto,
do espinho encravado
que carrego no peito
como prova de meu amor,
esse imenso amor
que sinto por ti
e que estará eternamente
matizado de cores,
das mesmas cores
que me ofertaram
o arco-íris,
as flores,
as borboletas
e os beija-flores.

domingo, 25 de maio de 2008

IRRECOBRÁVEL



IRRECOBRÁVEL
Oswaldo Antônio Begiato

Em toda minha vida
tive um único instante
de lucidez.

Foi quando invadiram-me
e roubaram-me
a precisão.

Não consigo mais
colocar o pingo nos is.

Não consigo mais
soletrar as palavras.

Já não sou mais preciso.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

OLHOS

OLHOS
Oswaldo Antônio Begiato

Minha morada tem janelas
Por onde entram imagens
Invertidas e pervertidas,
Cujas vidraças e vitrais,
Presos às esquadrias de minhas seguranças,
Ocupam-se em traduzi-las
E transformá-las em imagens doces.

São imagens de minha liberdade
E de minha demência
Que minhas paredes impermeáveis
Impedem-me de tocar
Aprisionando-me em meus tantos temores.

Mas cuido para que minhas janelas,
Seus parapeitos e paralelos,
Estejam sempre perfumados e enfeitados
Com pétalas e parapétalas
De florestas encharcadas de cores.
E que seus vidros e olvidos
Estejam sempre aquecidos
Com luzes encantadas e lustrais
E com uma luz azul sem fim
Capaz de produzir universos
Inventar canções eternas,
E desenhar um céu cheio de horizontes.

Porque é por elas que um dia,
Arrebentando todas minhas resistências,
Fugirei, voando, para bem longe de mim.

terça-feira, 20 de maio de 2008

AVENTAL

AVENTAL
Oswaldo Antônio Begiato

se do avental
em vez de trigo
avencas às pencas
caem das palhas
do espantalho
(uma espécie
de Isabel santa)
a poesia nasce
espontânea
e premonitória
porque a quem é dado
operar milagres
não suporta castigos

nem se pode imaginar
o quanto a alma
se mantém elevada e distante
de outras almas
quando o corpo
é deformado
é mutilado

e nem se pode imaginar
o quanto o corpo
se mantém receoso e distante
dos outros corpos
quando a alma
é perfurada
é vilipendiada

não pense, pois,
que ele derrama poesias
pensando em ti

tens o corpo perfeito
como uma avenca
sem palhas
sem castigos
e a alma pequena
como um avental
sem remendos
sem milagres

ele está óleo
tu estás água

FLOR BRANCA

FLOR BRANCA
Oswaldo Antônio Begiato

Que você nunca se aparte
Da delicada orquídea branca
Que traz em seus cabelos;
Pedra rara em jóia única.

Que você nunca ceife
Seus cabelos alongados
Que lhe cingem a cintura;
Mistério feminino do existir.

Que você nunca negue
Sua cintura às minhas mãos;
Elas ainda têm o brando perfume,
Da orquídea branca que lhe ofertei.

Que você nunca se aparte
Da imaculada orquídea branca
Que traz em seus cabelos;
Insígnia de meu devotamento.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

BEIJO

"O Beijo", de Augste Rodin

BEIJO
Oswaldo Antônio Begiato

Tenho
meu espaço
e meu tempo.

Não me busque
no sol
se estou no chão.
Não me busque
no chão
se estou nos sonhos.

Não chegue
adiantado.
Não chegue
atrasado.

Adiantado,
ainda não sou;
atrasado,
já fui.

Beije-me
sempre.
Assim
permito-me
ser matéria e espírito,
infinito e eternidade.

domingo, 18 de maio de 2008

SINGULAR

SINGULAR
Oswaldo Antônio Begiato

Dou-te uma rosa,
Primeira,
Com o espinho consagrando
O sangue
Que de minha mão roubou.

Dou-te meu amor,
Primeiro,
Com a saudade estrangulando
O ângulo
Que de tua alma roubei.

sábado, 17 de maio de 2008

CÍRCULO VIRTUOSO

CÍRCULO VIRTUOSO
Oswaldo Antônio Begiato
*
O amor é maior que a vida
Posto que existe
É maior que a existência
Posto que explode
É maior que a explosão
Posto que queima
É maior que o incêndio
Posto não ter fim
É maior que o fim
Posto começar
É maior que o começo
Posto ser criação
É maior que a criação
Posto que é eterno
É maior que a eternidade
Posto que é do homem
É maior que o ser humano
Posto ser da alma
É maior que a alma
Posto que a contém
É maior que o conteúdo
Posto transbordar
É maior que o transbordo
Posto que alça vôo
É maior que o voar
Posto ser do céu
É maior que o céu
Posto ser tudo
É maior que o tudo
Posto entristecer
É maior que a tristeza
Posto que morre
É maior do que a morte
Posto que é vida...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Alfredo Munhoz - Caminhos

NO NÃO DIZER
Oswaldo Antônio Begiato

Não estou
Não sou
Não vou

Não mudo
Não quero
Não pode

Não

Pronto
E ponto.

Há no não dizer
Uma inescrutável euforia
Uma inestimável alforria

quinta-feira, 15 de maio de 2008

RECORDAÇÃO


RECORDAÇÃO
Oswaldo Antônio Begiato

É sua essa tardinha
Perfumada de jasmim.
Guarde-a com esmero
Em sua caixinha de costura.
Assim, toda vez
Que for pregar um botão
Em seu vestido carmim
Vai se lembrar do meu amor:
Ele foi perfumado
Como o botão de jasmim
Que se enamorou dela, tardinha,
E a perfumou todinha.

domingo, 11 de maio de 2008



OS OLHOS DE MEU PAI E OS OLHOS DE MINHA MÃE
Oswaldo Antônio Begiato

Meu pai
Tinha um par de olhos azuis
Cheios de contentamentos.
Quando minha mãe se entristecia
Meu pai emprestava os olhos a ela.

Minha mãe
Tinha um par de olhos azuis
Cheios de delicadezas.
Quando meu pai se embrutecia
Minha mãe emprestava os olhos a ele.

Os olhos de meu pai
E os olhos de minha mãe
Ouviam mais que seus ouvidos,
Sentiam mais que suas peles,
Cheiravam mais que seus narizes,
Falavam mais que suas bocas.

Os olhos de meu pai
E os olhos de minha mãe
Viam com tanta santidade
Que o mundo ao meu redor
Era um carrossel de sentidos.

Deles herdei os olhos;
Só não herdei a sabedoria de domá-los.

Por isso sou triste e rude.

terça-feira, 6 de maio de 2008

DESPEDIDA DERRADEIRA
Oswaldo Antônio Begiato

Quando eu saía de casa
E tu voltavas
Entreguei em tuas mãos
- promessa de retorno –
Um ramo florido de primavera
Que encontrei caído na calçada
E despedaçado.

Nossas vidas se encheram de sonhos.

Quando voltei
Encontrei as flores
Abandonadas no lixo
E desfalecidas.

Nunca mais te dou flores.
Nunca mais volto para casa.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

VOTO
Oswaldo Antônio Begiato

quero sempre que venhas
não importa a hora que chegues
nem o dia
nem a roupa com que venhas
quero que venhas
quero te ver
quero te tocar
quero te amar
te amar
te amar...
não só com o coração
mas com todos os meus músculos
e todas as veias do meu sangue

quero te dar uma folha de hortelã
e quero que o perfume dela se misture com o teu
e quero que fique em minhas mãos
um pouco do teu perfume
e um pouco do perfume da hortelã
...quero não te esquecer....

quero a saliva de tua boca
e quero misturar a saliva da minha boca
com a saliva da tua boca
quero o teu beijo
selando o meu amor...
registrando-o em cartório
e reconhecendo tua firma

quero asas
muitas asas...
asas na imaginação
asas nas tuas costas
asas no teu ventre
asas nas fibras de minha alma
quero asas
asas para voarmos juntos...

quero o irreparável
o irreparável complacente de casas abandonadas
de perdas incompreensíveis...
quero o irreparável
o irreparável vermelho
do pôr-do-sol
da angústia
da solidão.
...quero ficar pensando na tua presença

quero todos os teus nós
teus enroscos.
quero assumir todas as tuas dívidas
todas as tuas dúvidas.
quero todos os teus pecados
enlaçados com os meus pecados.
quero cometer contigo
todos os erros possíveis
quero que erremos pela vida

quero todos os sabores
quero o sabor da compaixão
do ciúme
da saudade
da traição
da volta.
de todas as voltas
de muitas voltas...
...quero todo o sabor da tua fruta

quero te oferecer todas as minhas lágrimas
quero que minhas lágrimas te sejam doces
quero que me vejas sofrer
e quero que meu sofrimento
seja teu alento
seja teu alimento
seja teu acalanto.
...quero chorar pelo teu amor...

quero a tua palidez
a palidez de tua casca
a tua pálida personalidade
a tua fragilidade
a tua flacidez
a tua feminilidade...
quero a palidez de tuas palavras
de teus pensamentos
quero a tua proteção e o teu conselho

quero o teu abandono
quero ser abandonado
pelas tuas entradas
pelo teu sorriso
pelos teus gestos
quero o teu abandono
que ele me retalhe
me divida
me reparta
me distribua
quero que me recolhas...

quero depois brotar como um broto virgem
brotar do nada
brotar do centro da terra
do centro da lua.
do teu centro
do teu misterioso centro
quero ser o teu poema

quero de ti fazer uma jóia
de cor azul
de coral azul
descaradamente azul
quero de ti fazer uma jóia
rara
relevante
irreverente
estreita como o teu pescoço
quero-te princesa...

quero a tua alucinação
tuas desconfianças
teus bichos
quero todas as tuas loucuras
e quero tuas loucuras enlouquecendo as minhas.
quero que sejas livre

quero os teus temores
o teu medo de altura
o medo do inferno
o medo da fome
o medo da morte
da falta de sorte
o medo do teu destino.
os mais cretinos medos
todos os teus medos eu quero
juro que quero

quero tua transparência
quero ver além de ti
além de tua alma
além de tua calma
além de teu além.
quero te ver limpa
cristalina
quero te ver como cascata
de águas puras
quero ver tua mais pura pureza!

quero teus espinhos
espinho por espinho
espetado nas minhas pétalas.
e que teus espinhos
sejam meus caminhos
e que teus caminhos
sejam meus espinhos
quero te ver linda
quero te ver camomila
chá quente d e pétalas secas.

quero te ver vermelha
te ver verde
verdejantemente avermelhada
como uma vergonha
quero te ver com teus pudores
com teus preconceitos
com tua inocência
quero tua bondade me incomodando

e quando então
te separares das estrelas
e te tornares
melissa única na escuridão da noite
quero te ver
luz
luz rosa
rosa flor
flor-de-maio
flor do ano todo
quero te ver eterna

e, se nessa noite escura,
noite escura de melissa única
vires ao invés de uma
duas melissas
serei eu a teu lado flor menor
perdida no infinito
no infinito de tua vastidão
querendo ser para ti único


assim, vagando à busca de um elo,
que permita unir tua essência
à essência da espera
à essência da presença
à essência da perseverança
estarei esperando
que venhas...
- que venhas como quiseres...

que venhas como um bólido
que venhas donzela ou prostituta
proscrita.
inscrita.
ou escrita com letras góticas
cheia de tatuagens
de brinco
- mas que venhas, brincando venhas...

e eu serei teu escravo
teu bobo da corte
teu arlequim
teu maquiador
teu lixeiro
teu servo.
- e o serei pelo resto de tua vida
pelo resto de minha vida, prometo-te...

e serei feliz
prometo-te...

eternamente feliz...
prometo-te...

como se a vida fosse uma caixa de fósforos...

domingo, 4 de maio de 2008

DESCOMPASSO




DESCOMPASSO
Oswaldo Antônio Begiato

Haveremos de viver como se nada tivesse acontecido;
Parados, não andamos,
Andando, não chegamos,
Chegando, nada fizemos.

Haveremos de viver como se nada tivéssemos causado,
Diremos que o que os olhos não vêem
O coração não sente.
Que não roubamos,
Mas não fizemos
Que não amamos,
Mas jantamos fora
Que não construímos,
Mas fomos concretos.

Nada haverá em nossos caminhos:
Nem espinhos,
Nem tumores,
Nem rumores de amores,
Nem beijos estúpidos,
Nenhuma estrela com nosso nome,
Nenhum filho com nosso sobrenome.

E quando se avizinhar a hora de colher a última pétala da margarida, seremos mal quistos.

Compreenderemos então
o quanto menos triste é a solidão
do que a companhia de um sapo
que jamais se tornará príncipe.

sábado, 3 de maio de 2008

MIÚDO
Oswaldo Antônio Begiato

Sou ralo,
sou pálido,
sou pouco,
sou só.

Miudinho, miudinho,
dedo mindinho até,
grão de areia,
formiga lava-pé,
coisa à toa;
sem muito valor,
sem muito juízo.

Não tenho volume algum;
sou ralo,
sou pálido,
sou pouco,
sou só:
quase nada,
quasímodo,
miudinho, miudinho.

Semente de mostarda!

quinta-feira, 1 de maio de 2008

PEDIDO INSTANTE

PEDIDO INSTANTE
Oswaldo Antônio Begiato

Todos os dias, logo pela manhã,
Quando me ponho a caminhar
Em silêncio e em contemplações
Peço a Deus pelas pessoas que amo.

Peço a Ele que, como Deus, conceda a elas saúde.
Saúde do corpo. Saúde da mente. Saúde da alma.
Mas se for necessária a doença, por questões d’Ele,
Que dê a meus amigos forças para suportá-la.

Agora, se as forças se esgotarem por falta de músculos
Peço que coloque ao lado delas os músculos rígidos
De corações disponíveis e corajosos
Para lhes servir de sustentáculo. De tabernáculo, talvez...

Se mesmo assim, a dor for invencível,
Que permita a elas, o mais breve,
Irem descansar serenas e eternas,
Com suas almas puras, ao lado d’Ele.

Se a vida terrena, prelúdio da vida eterna,
É um vórtice de sofrimentos, que a morte não o seja.
É isso que peço todas as manhãs.

Não peço essas coisas
Ao deus fraco que as religiões inventaram para si
Nem ao deus fácil que eu inventei para mim;
Peço sim, humildemente,
Ao Deus intrigante e irrequieto,
Que teve a audácia de me inventar.