sábado, 27 de novembro de 2010

DERMO-ÓTICA


DERMO-ÓTICA
Oswaldo Antônio Begiato

Hoje estou feliz como nunca estive antes.

Sinto minhas alamedas cheias de bonanças,
Meus canteiros revirados pelo cuidado alheio,
Meus vácuos encurtados pela presença da verdade.

Sinto minhas sombras povoando os relógios de sol,
Minhas distâncias sendo medidas pelos sextantes.

Apesar de tudo, de todos.
Apesar de nada, de cada.
Apesar de pouco, de louco.

É que hoje você está mais radiante do que uma chuva de meteoros,
E suas mãos puderam me ler do princípio ao fim.

domingo, 21 de novembro de 2010

TUA CARNE


TUA CARNE
Oswaldo Antônio Begiato


Juntas, tua carne e tua luz são uma delícia.

Mas o que importa isso agora,
meu inesgotável amor,
se de tão velha a poesia
ela já não tem mais sabor,
não tem mais calor,
não tem mais cor,
não tem mais dor?

Escarneci-me todo na falta de presença:
- Ficaram carne, luz e poesia incomestíveis.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

CARA CARÍSSIMA



CARA CARÍSSIMA
Oswaldo Antônio Begiato
 
Quando eu nasci
disseram pra minha mãe
que eu tinha cara de joelho.

Quando adolescente
diziam que eu tinha uma cara
nas minhas espinhas.

Agora que envelheci
dizem que precisam afastar minhas rugas
para poderem enxergar minha cara.

Desconfio que nunca tive uma cara de verdade.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

RESSURGIMENTO


RESSURGIMENTO
Oswaldo Antônio Begiato

Ganhei uma rosa
Leve como uma forma,
Breve como uma linha,
Fina como a esperança,
Bela como o mármore,
Donzela como a aurora,
Champanhe como o arroubo.
 
Ganhei uma rosa
Feita de brisa lenta,
Assim, como um alívio;
Feita de folhas virgens
Assim, como uma viagem.
 
Ganhei uma rosa
Feita de muitos versos,
Versos de plenos anversos.
 
Ganhei uma rosa. De ti.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

POEMA RICO


POEMA RICO
Oswaldo Antônio Begiato

Gostaria que abundantes me fossem
as palavras.
Mas elas me fogem
se fazem magras,
raquíticas,
e parcas.
(Me deixam mudo
diante desta mulher.)

Gostaria que intensos me fossem
os diamantes.
Mas tenho apenas uns cristais
que se quebram quando meu olhar
os toca sem sentido.
(Me deixam pobre
diante desta mulher.)

Mas tenho dentro de mim um coração,
que mesmo mudo,
bate enlouquecido
e como uma ostra vaidosa,
cria com o seu bater doído
a pérola mais linda
que já se viu.
(Me deixa como jóia rara
diante desta mulher.)

Me deixa como poeta
diante desta mulher.