sábado, 22 de fevereiro de 2014

ILHÉUS

ILHÉUS
Oswaldo Antônio Begiato
 
Pescadores de maré baixa, pescadores de maré alta!
Tragam em suas redes preciosas
O fio negro da crina do cavalo Branco de Napoleão,
A ponta de dois gumes da estrela cadente,
A varinha de condão da fada sininho,
A moeda de ouro do pote sob a extremidade do arco-íris
Porque o por do sol se fará belo como Cleópatra
E me farei por ti, Ilhéus, apaixonado como um transeunte desassossegado.
 
Mario Quintana, o gaúcho, que a essa hora se esbalda de céu,
E pouco caso faz do tempo
Deixando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas,
Adoraria a Bahia.
- Na Bahia o tempo não tem a menor importância
Porque o céu chegou primeiro aqui, e aqui se rimou todo.
 
Ilhéus, Bahia, em 22 de agosto de 2.011.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

DESERTO

DESERTO
Oswaldo Antônio Begiato
 
Estou morrendo de sede,
Mas o que fazer,
Se o teu poço é fundo
E minha corda curta?
 
O que fazer,
Se o teu deserto é imenso
E meu caminhão pequenino?

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

PERDA DE TEMPO

PERDA DE TEMPO
Oswaldo Antônio Begiato

Para onde você pensa que vai?
Não sabe que todos
os caminhos
levam a Roma?

E quem tem boca
beija
e quem não a tem
ouve.

E quem tem um só olho
cativa a princesa
e quem não tem olho
vive só.

Ou beija a princesa e a desperta.

E quem tem pés
massageia as costas
e quem não tem
espera.

Uma canoa se faz com um pau só
e muitas mãos e muitos sonhos e muita coragem.

E quem fica muito
singrando mares
não conhece as terras.

Da terra se vem
a terra se vai,
mas é preciso cuidado;
nem tanto ao mar, nem tanto ao amar.

Como é doce amar no mar!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

FAZEDORA

FAZEDORA
Oswaldo Antônio Begiato
 
A melhor parte de mim
são as tristezas
que ainda não escrevi,
por medos, incertezas e inseguranças.
 
Não sei se as escreverei.
Não sei se vale a pena roteirizar
essa minha parte.
 
Gosto dela assim
porque ela
me é a parte desconhecida,
o lado escuro de minha alma,
jardim intocado
onde nascerão flores
e ervas daninhas
sob um sol que há de iluminar,
ou quem sabe,
de queimar. Só a mim. Só.
 
É o segredo meu essa minha parte,
que preciso descobrir
nas minhas horas de solidão,
nos meus lugares de abandono,
no sítio de meu isolamento
e que somente a dor da humilhação,
essa fazedora de sentimentos,
vai me fazer encontrá-la
no meio de um amor perdido,
no cume agudo de uma despedida.
 
E sei que quando
estiver frente a frente
com essa parte minha,
revelarei,
não a foto indecifrável
de meus questionamentos,
mas a luz quente
que vai inculcar
em minha alma
o roteiro escrito por mim
da película em preto e branco
dos meus tempos
de cinema mudo.
 
A produção será minha,
a direção será do acaso.
 
A plateia serei apenas eu.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

LÁGRIMA

LÁGRIMA
Oswaldo Antônio Begiato
 
Para eu fazer nascer
uma tristeza
eu preciso
de um caso sério
que me faça pouco caso.
 
No mais é só reclamo
que o vento espana,
que o tempo esgana.
 
Dor de amor é dor sem dor.