quinta-feira, 27 de agosto de 2009

LUA MIÚDA


LUA MIÚDA
Oswaldo Antônio Begiato

Mais do que
qualquer coisa,
nesta minha vida
de hospedeiro,
queria te amar
ardentemente
com minhas portas
escancaradas
e minhas janelas
descortinadas.

Mas tu és estrela
e eu lua miúda.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

SENHORITA, DÁ-ME O PRAZER DESTA DANÇA?


SENHORITA, DÁ-ME O PRAZER DESTA DANÇA?
Oswaldo Antônio Begiato

Zelador, queria cultivar um jardim encantador
cheio de rosas perfumadas e distraídas,
- amarelas e promíscuas -
cheio de cravos etéreos e exibidos,
- escarlates e apaixonados -
cheio de violetas pequenas e atrevidas,
- brancas e meigas.

Cheio de flores da idade que nascem no verso do tempo.
Cheio de flores que não se cheira com segundas intenções.

Sonhador, queria inventar um bailar encantador,
cheio de valsas a seus pés suaves e lépidos,
- sonho de bailarino -
cheio de tangos a seus quadris sensuais e curvos,
- sonho de amante -
cheio de danças a seu ventre livre e inocente,
- sonho de dançador.

Cheio dos passos que aprisionam os sonhos e me fazem teu anjo.
Cheio dos passos imprudentes com os quais zelo pelas tuas asas.

E com as mãos cheias de flores, queria tirar-lhe para dançar;
para dançar em teus braços longos e atemporais.
Mas, como sabes bem, sou bobo. Sou tímido. Perdoe-me.
Por favor, tire-me tu, senhorita, para dançar!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

INCÔNSCIO


INCÔNSCIO
Oswaldo Antônio Begiato

Há pessoas que amam
tão intensamente nossos inversos
deixando-os, para quem os vê de fora,
parecidos com a ilusória linha reta
por onde caminham nossos pés tortos,
por onde caminham os desejos de nossos corpos.

Há pessoas que amam
tão intensamente nossos erros
a ponto de parecermos a retidão dos profetas,
legada desde o princípio dos tempos
por nossos deuses externos,
quando ainda não existiam pecados veniais; nem mortais.

Há pessoas que nos amam intensamente;
e nem Deus, com toda sua onisciência,
sabe o porquê.

Essas pessoas merecem a nossa mais inalienável gratidão.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

PURA E SIMPLES


PURA E SIMPLES
Oswaldo Antônio Begiato

Eu poderia vir aqui
e olhando dentro da tua inusitada alma
dizer que você é mais bonita
do que o avental pintado à mão
que minha mãe colocava aos domingos,
quando se preparava para fazer o nosso almoço,
em frente ao fogão à lenha.
Foi minha primeira visão de suavidade!

Eu poderia vir aqui
e olhando dentro de tuas meiguices raras
dizer que você é mais bonita
do que a gravata borboleta azul marinho
que meu pai, orgulhoso de sua fé
e orgulhoso da fé que imaginou que eu tivesse,
enfeitou meu pescoço
quando fiz a primeira comunhão.
Foi minha primeira visão de santidade!

Eu poderia vir aqui
e olhando dentro de teus lugares ocultos
dizer que você é mais bonita
do que a doída canção “Santa Lucia”
que meu avô ouvia sua gente cantar nos casamentos
e chorava e soluçava e se lembrava da Itália
de onde tinha partido muito moço com o coração partido.
Foi minha primeira visão de saudade!

Eu poderia vir aqui
e olhando dentro de teus olhos rimados
dizer que você é mais bonita
do que o soneto de Vinícius de Moraes
com que minha primeira namorada,
equivocadamente apaixonada,
fez a dedicatória no livro que me deu de presente,
quando demos o nosso primeiro beijo.
Foi minha primeira visão de eternidade!

Mas escolhi dizer:
- Você é linda!
Puramente.

domingo, 2 de agosto de 2009

AMOR ALÉM


AMOR ALÉM
Oswaldo Antônio Begiato

Hoje eu quis te amar de um modo diferente;
Diferente de como sempre te amei.
Quis te amar modestamente. Despojado de todas minhas coisas.
Despojado de meus versos despudorados,
De minhas rimas enlouquecidas.

Hoje eu quis te amar
Simplesmente, como pombas,
No mais singelo dos vôos;
Intemporalmente, como pedras polidas
Que a água frágil acariciou por milênios.

Quis um amor desses que a história grava
Nas memórias mais amnésicas e distraídas
Com fios d’ouro indeléveis,
Com despercebidas entregas,
Com pungentes sentimentos...

Hoje eu quis te amar de um modo diferente.
Sem os dentes com os quais sempre lhe mordi a presença,
Sem flores insossas com as quais sempre enfeitei a entrada de seu corpo,
Sem o céu cheio das estrelas falsas que nele acendi para te iluminar,
Sem perfumes insontes
Na nossa pele, nos nossos poros, nas nossas veias, no nosso juízo;
Sem seios divididos ao meio pelo mar morto,
Sem véus impávidos escondendo a paúra.
Sem palavras bonitas, sem palavras difíceis. Sem palavras.
Sem espelhos convexos que invertem as imagens magras de nossos desejos.
Sem olhares, sem segredos, sem vestidos vermelhos, sem projetos.
Sem passado, sem princípio.
Sem presente, sem instantes.
Sem futuro, sem eternidade.

Apenas quis hoje te amar de um modo diferente.
Modestamente, quis te amar.

E tu vieste envolta em uma luz tão incandescente,
Tão cheia de coisas que em ti guardaste pra mim a vida inteira,
Que mais do que te amar diferente e perdidamente
Morri por ti. Morri repleto de ti. Morri somente.