domingo, 30 de outubro de 2011

VARANDA


---------->Maia,Gueifães, varanda antiga / Old balcony

VARANDA
Oswaldo Antônio Begiato

Na varanda da casa que não tenho,
coloco a cabeça no mundo da lua
mas fico com os pés no chão firme.
No chão, teço caminhos e sei que jamais os palmilharei.

Na varanda da casa que não tenho,
rezo o terço de cada dia,
faço a procissão passar com os santos em seus andores.
Caio de joelhos diante de um Deus que não é meu
nem eu sou Dele.

Na varanda da casa que não tenho,
leio o livro do poeta decrépito
cheio de versos moribundos.
Aprendo novas rimas,
nas entrelinhas do pensamento.
Com pena nas mãos escrevo com letras mortas
a poesia que não me ressuscitará.

Na varanda da casa que não tenho,
fico pensando no amor verdadeiro
e de viola em viola componho canções novas.
Os pássaros gostam de ouvir mas meu amor, não.

Meu amor; aquele que não veio nem nunca virá.

domingo, 16 de outubro de 2011

QUARESMA



QUARESMA
Oswaldo Antônio Begiato

a esmo e quando a tristeza era do dia
o mesmo lesma se acasala
com a mesma lesma na árvore virgem

a quaresmeira cheia de cio
acha uma maneira de ser faceira
se florindo feita donzela
diante do apanágio

a lesma dá à luz o roxo
na quaresmeira
enfeitada de semana santa

esperemos a ressurreição

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

QUELHA


QUELHA
Oswaldo Antônio Begiato

As avenidas largas agora me cortam a essência.
Trazem concreto, violência e impersonalidade
E a velocidade do tempo me esgota os poros.
Meus olhos secos sangram ao sol e ao vento.

Quero os caminhos apertados e pequenos
Que me enchiam os olhos de simplicidade
E a boca com o sereno gosto da meninice.
Eles me ninavam com promessas de futuro.

Oxalá, pudesse eu ainda ser acalentado!