segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

QUANDO CHEGA O CHEIRO DA UVA


QUANDO CHEGA O CHEIRO DA UVA
Oswaldo Antônio Begiato

Com o final do ano chegam à minha cidade
as barraquinhas onde se vende uva em caixas de madeira.
Elas se proliferam nas esquinas. Nas encruzilhadas.
Nas ruas estreitas. Nas ruas largas.
Nas estradas. Nos becos sem saídas.

Há na minha cidade sítios onde mãos rudes
na iminente chegada do Natal,
santamente se aveludam para a colheita da uva.
(É um ritual onde veludos se abençoam;
o da mão do viticultor
e o da pele do fruto maduro.)

Minha cidade é a terra da uva;
Uva Niágara -
rosada, branca.
Uvas de mesa.
Minha cidade é terra de uvas e de mesas.

Quando a uva por aqui chega
chega também a chuva.
Chuva de fim de tarde. Chuva fina.
Chuva de verão. Tempestuosa.
Chuva de granizo. Chuva granítica.
Tem chuva que a uva gosta, porque acaricia.
Tem chuva que a uva não gosta, porque machuca.

Minha terra é terra de uva no final do ano.
Minha terra é terra de chuva no final do ano.

E quando as uvas passam e as barraquinhas se vão,
pode-se ver por toda a cidade
flores brancas e dóceis,
pequeninas como um olhar
ternas como um perdão;
e minha cidade hospeda em suas ruas poesias órfãs.

Minha terra é terra de flor o ano todo,
de poesia dentro de mim desde sempre.

E é por isso que a lua,
tão distante, tão fria, tão pálida
vez por outra se despenca do céu
enfeita-se de flores
e se embebeda de vinho
nas noites chuvosas de minha cidade.

O alto falante do serviço de som da quermesse,
onde acontece a Festa Italiana
anuncia que o desvio de conduta não será tolerado.
E não será mesmo.

É nessa ocasião que a lua se parteja toda
em poesias rubras. Em poesias prateadas.

8 comentários:

Neneca Barbosa - Um ser humano em evolução! disse...

Lindo! Lindo! Fiz a viagem com você, sem pedir licença. Percorri todos os recantos da sua cidade.
A imagem das uvas também bela. Quase real.Parabéns meu querido amigo. Obrigada viu pelas visitas maravilhosas em meu Blog.
Um abraço, Neneca.

Milene Sarquissiano disse...

Vou dizer o que eu já te disse, e nem pense em me chamar de exagerada:
essa poesia é totalmente deliciosa, deixa a gente com água na boca.
É a fotografia de Jundiaí impressa em letras.
Tenho a sensação de estar lendo aqueles livros maravilhosos de estorinhas, com a vantagem de não precisar das ilustrações,pois consegues desenhá-las em cada verso.
E,ainda por cima,é real!
Precisas levar ao conhecimento das autoridades competentes essa poesia(se não o fizeres,darei um jeito nisso).
É a maior declaração de amor que uma cidade pode receber de um filho.
Éla é perfeita, literalmente "uma uva",de tão bonita.

PARABÉNS!!!

Anônimo disse...

Boa noite,meu querido Poeta,meu Amigo.
E não é que a uva saltou para a minha boca?
Saltou,ñ esperou ser colhida,tão real e apetitosa!
Saboreei cada bago,com Amizade,embalada pela música de fundo!
Beijo.
isa.


PS:- Vou levar um cachinho comigo. Deixa?

A Wild Garden disse...

Ah, senti até o gosto de uva e tive que atacar umas da geladeira! Deve vir daí um suco de uva amarelo que adoro!

Gilberto Ângelo Begiato disse...

viva nossa cidade que é uma uva parabéns!!!!

Antonio Vendramini Neto disse...

Olá Wado.

Você descreveu com maestria esse tempo em que a fruta simbolo de nossa cidade, nos da o prazer,entremeada com a doçura de suas palavras.
Muito boa essa homenahem a Jundiai.

Meu canto secreto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Meu canto secreto disse...

Adoro vinho, mas poesia e vinho é melhor, porque preenche, perfuma e adoça a alma.
Fazer disso um recado grato de quem reconhece força da raíz e o por quê de ser quem é.
Adoro vim aqui, poeta-amigo.
Esse lugar é lindo!