
A VESTE COM A QUAL QUERO ME VER COBERTO
Oswaldo Antônio Begiato
Perco-me nas palavras e não consigo encontrar
Aquela capaz de traduzir o medo de ver as vestes do tempo
Com as quais meu corpo teme ser coberto.
Penso que elas me fizeram outra pessoa,
Mas quando olho dentro de meus olhos
Vejo a inalterabilidade de meu íntimo. Estou nu.
Lá o tempo não me envolveu. Ainda há um pequenino me habitando,
Brincando de envelhecer, sem juízo. Lúcido. Feliz.
Rompido por trancos inesperados diante de tanta infância interna
E de um corpo tragado pelo roer impiedoso dos passamentos,
Refugio-me dentro de mim mesmo,
Onde fico protegido pelo manto parcial de meus olhos.
Onde fico criança eterna escondida das horas algozes.
E é tão bom ficar assim. Sem roupa. Sem corpo. Sem caduquices. Sem nada.
Guardado como joia rara que o tempo não ousa corromper
Com o pó da senilidade.
Guardado dentro de olhos tão maternos.