segunda-feira, 24 de novembro de 2008

TODO

A criança doente, de Gabriel Metsu




TODO
Oswaldo Antônio Begiato


Depois de ver tantos inteiros
falando de metades,
metades que não me pertenciam,
devo dizer ao mundo das metades que me pertencem
e que são porções trágicas
de meu todo.

Assim quero que fique claro:

Uma metade de mim é solidão,
a outra é abandono.

Uma metade de mim é dor,
a outra é sofrimento.

Uma metade de mim é injustiça,
a outra é subtração.

Uma metade de mim é lágrima,
a outra é tristeza.

Uma metade de mim é porrada,
a outra é cicatriz.

Uma metade de mim é ferida,
a outra é hemorragia.

Uma metade de mim é ódio,
a outra é desprezo.

Uma metade de mim é racismo,
a outra é intolerância.

Uma metade de mim é derrota,
a outra é subjugação.

Uma metade mim é sede,
a outra é estiagem.

Uma metade de mim é fome,
a outra é escassez.

Uma metade de mim é violência,
a outra é rompimento.


Uma metade de mim é pecado,
a outra é transgressão.

Uma metade de mim é agonia,
a outra é unção dos enfermos.

Uma metade de mim é pó,
a outra é morte.

Mas devo dizer também, ao mundo,
Com toda minha limpidez,
Que uma metade de mim é Fênix,
a outra metade é ressureição.

Um comentário:

ana wagner disse...

Poema triste mas cheio de esperanças!
Adorei isso meu poeta! Beijos!