sexta-feira, 20 de junho de 2008

CINZAS DA SANIDADE


CINZAS DA SANIDADE
Oswaldo Antônio Begiato

Varro o chão
Onde caíram as palavras comportadas
Que por entre dedos gélidos
De minhas mãos rudes
Deixei escapulir, por obstinação.

Junto-as e cremo-as.

As cinzas, entrego-as ao vento;
Leve-as ele para bem longe de mim,
Fantasma que são
Do poema reto
Que não me permiti consumar.

Não lapido as palavras.
Não destilo as palavras.

As lapidadas,
Deixo-as aos jovens apaixonados.
As destiladas,
Aos que delas se tornaram amantes incorrigíveis.

Quero-as selvagens,
Cheias de quinas e fios,
Cheias de doenças e vícios,
Para que quando brotarem de dentro de mim
Rasguem-me a carne,
Contaminem-me o sangue
E façam-se poemas tortos:
Eles me conferem vida intensa.

Não quero, pois, o poema da breve paixão,
Nem o da paixão amancebada:
Eu vou é me casar, para sempre, com o Cântico Negro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Confesso a falta de palavras. Nada a dizer, quando o muito é apenas e tão somente , o pouco de um tudo.
Sim. Escreves a vida, com a magia de um encanto tão só teu.
Sabe que no fundo, é de magia que as estrelas falam e é com magia que elas nos cegam e brilham?
Brilham e iluminam vida. Guiam por veredas e becos, a essência do que é real e verdadeiro de um caminho a percorrer. De um caminho gravado e sentido nas mãos nunca dadas, em dois corações resguardados.

ana wagner disse...

Que tuas palavras e poemas te ofereçam sempre vida intensa! Belo e intrigante poema!
Beijos
Ana W