sexta-feira, 18 de junho de 2010

COLHENDO GIRASSÓIS

Obra - Menina Colhendo Girassóis - Laura Montania


COLHENDO GIRASSÓIS
Oswaldo Antônio Begiato

Olha para minhas mãos espalmadas;
- Elas estão cheias de promessas -
Já nem sei se caberão nas suas,
Tão cheias de caminhos novos;
- Os caminhos contêm saídas
Que as mãos palmilham sigilosamente.

Meus olhos nus apenas vêm as mãos;
- Que olhos nus poderiam ver as auroras solares?
A luz do sol queima as retinas de olhares nus,
Só os poetas poderão vê-las e manter os olhos incólumes.
E u não sou poeta. Sou caminhante peregrino.

Busco a saída que lateja dentro de mim
Feito uma crença. A religião é como uma estátua granítica
Que fica à mercê da ação do tempo;
O sol, a chuva, o vento e o vandalismo
Vão lhe moldando com talhadeiras enérgicas
Delas extraindo o medo dos castigos:
- Assim a alma vai ficando mais leve, e a morte mais aceitável.

Sou de todos os tamanhos, de todas as medidas, de todos os pesos,
De todos os escombros, de todas as sombras, de todos os castigos...
Venho do nada, do branco, do vácuo, do lodo, do adultério.
Sou apenas promessas. Vãs promessas que se esvanecem a cada passo,
Desse caminho feito de suavidades, e que não ouso experimentar.

Tu vens de uma terra cheia de luz de chuvas puras, de arco-íris, de águas transparentes.
Tu és caminhos muitos onde meus pés não têm passos.

Para que duas almas possam se encantar mutuamente
Preciso é que tenham a objetiva de seus olhos
Com o mesmo diâmetro, com o mesmo alcance
E se abrindo ao mesmo tempo.

Tão importante quanto os versos que escrevemos
São os girassóis que sagaz, deveríamos colher
Nas manhãs douradas nos campos que nos cercam,
Porque a nenhum poeta é permitido viver só de sua poesia.

Há que haver no poeta uma grandeza maior que sua poesia.
Há que haver no poeta uma aventura feita de gestos generosos.
Há que haver no poeta olhos nus que possam enxergar auroras solares.

Há poetas imensos que nunca escreveram um verso sequer,
Mas que inventaram gestos onde ninguém nunca havia antes acenado.
Há poetas cujo olhar encabula o sol. Não precisam de palavras.

Quanto a ti, minha vida, se te proibirem de ir por esses caminhos
Que tuas mãos deitam sobre o meu passar,
Porque dele já colheram todas as flores,
Vá assim mesmo.
Saiba que não vieste para colher;
Vieste pra espalhar sementes.
A colheita não é tua responsabilidade.
Já não sei separar mais o que são desejos teus,
E o que são desejos meus. Deixe que os girassóis colho eu.

O que me consola é saber, no entanto,
Pelo bico doce de uma coleirinha, abençoada pelo açúcar santo,
Que veio me contar na manhãzinha desse domingo de ramos,
Que o meu poeta amado, e amado poeta que vive dentro de mim,
Além de disseminar versos marotos,
Está sempre caminhando pelo cemitério dos pobres em Sobral
- Quase nu (olhos e pele) -
Com uma cesta de girassóis dourados nas mãos
Derramando sobre túmulos toscos e abandonados
O perfume dessas flores douradas
E as distribuindo em vasos solitários.

Tomara, Deus, que seja verdade.

11 comentários:

Anônimo disse...

Boa noite,Poeta Amigo!
Chegaram até este lado do Oceano,
os girassóis magníficos,as mãos
oferecendo a beleza do sonho,as palavras projectando o eco...
Só,que neste lado de cá...ñ há outro Poeta a receber toda essa dádiva!
Mas há uma Alma sensível,Amiga que
gosta de "ler à sua maneira" a mensagem,os segredos, dos Poetas...
Beijo.
isa.

Simplesmente... disse...

Poeta Maravilhoso...

saudade de vc, sempre...
q poema mais lindo, aliás como tudo q escreve...
coloquei no meu blog um carinho para vc...
espero q goste...

http://partedeana.blogspot.com

beijo
Ana...

Anônimo disse...

É verdade sim! Vi solitários com seus girassóis. Solitários repletos de seu encanto! Parabéms POETA! A cada dia sua poesia se torna mais e mais fascinante!

Neneca Barbosa - Um ser humano em evolução! disse...

Que belo poema, meu querido amigo!
Adoro Girassóis. Lembrança dos tempos idos, inspiriou-me também e compus um soneto, "Saudades dos Girassóis".
Um grande abraço!
Neneca

Anônimo disse...

Prá Voce...

Um ramalhete
Com rosas e alecrim
Nele, fitas de afeto
Em laços de bem querer,
Um sorriso em cada pétala
Um bilhete de paz
Pra tua vida...
E um pedido!
Jamais se esqueça de mim!

(Sirlei L. Passolongo)

Saudações Poéticas.....M@ria

POESIA CÁ E LÁ disse...

Encantadores versos..... viagem lírica!!

Parabéns, poeta

Beijos ternurentos

Clau Assi

Vivian disse...

...girassóis sempre encantam.

e nas mãos do poeta então,
vira sonho e encantamento
versejando a poesia num
vasto sentir.

que lindo é aqui!

bjbj

Pelos caminhos da vida. disse...

Vim aqui através do blog da amiga Isa, fiquei encantada com seu poema, retornarei pois quero ver todos.

Fica aqui o convite para conhecer o meu cantinho.

beijooo.

Pelos caminhos da vida. disse...

Vim aqui através do blog da amiga Isa, fiquei encantada com seu poema, retornarei pois quero ver todos.

Fica aqui o convite para conhecer o meu cantinho.

beijooo.

Rosinha Mafaber disse...

Arrepiei...Que lindo meu querido poeta!!! Como consegue ser tão lindo por completo. Seus poemas mais parecem agrados de Deus para nós. Obrigada,por nos presentear sempre...

Beijo.

Rosinha

Anônimo disse...

Você é maravilho, POETA!
Que alegria partilhar da sua presença!