domingo, 25 de maio de 2014

OSTRACISMO

OSTRACISMO
Oswaldo Antônio Begiato
 
Não quero mais
ser visível nos jornais.
 
Não quero mais
aparecer em colunas sociais.
 
Não quero mais
meu nome escrito
em letras garrafais.
 
Quero apenas
me esconder em algum verso
de alguma poesia feminina.

domingo, 18 de maio de 2014

FIÁVEL

FIÁVEL
Oswaldo Antônio Begiato
 
No quintal de minha casa
caiu um raio cor-de-rosa;
caiu um anteontem
caiu um ontem
caiu um hoje...
 
Amanhã eu quero ficar esperando cair outro,
mas o pé de alecrim me garantiu
que raios não caem duas vezes no mesmo lugar.
 
Acho que mesmo assim vou ficar esperando;
o pé de alecrim não sabe que se trata
de um raio cor-de-rosa
e que raios cor-de-rosa caem tantas vezes quantas forem as esperanças.

domingo, 27 de abril de 2014

POTE D'ÁGUA

POTE D’ÁGUA
Oswaldo Antônio Begiato
 
Quando o contentamento
ou a tristeza
fogem de suas medidas
razoáveis
perturbando minha serena
mas soberana paz interior
acabo por tomar três
ou quatro doses de uísque.
 
E assim vou levando
minha vida,
até quando a cirrose,
essa inconveniente madrasta
dos boêmios
resolver tomar conta
de meu fígado e
de minhas fugas
trancafiando-me dentro
de um pote d’água. Paciência!
 
Afinal, paz mesmo,
só se encontra na morte,
gota derradeira.

terça-feira, 15 de abril de 2014

IRMÃOS DE SANGUE


IRMÃOS DE SANGUE
Oswaldo Antônio Begiato

Há uma tristeza imensa
no fundo de meu coração.

Há um coração imenso
no fundo de minha tristeza.

terça-feira, 25 de março de 2014

PESO


PESO
Oswaldo Antônio Begiato

A respeito de minhas
perdas e minhas pedras
só eu sei.

Não leve muito a sério
as coisas que eu falo.

Tenho lampejos de loucura
e às vezes faço amarga a vida
mais do que ela é.

Eu não tenho jeito mesmo,
sou incorrigível,
viciado em lamúrias
e dependente de palavras.

Por isso a poesia me encarcera. Eu acho.

sábado, 1 de março de 2014

EM TODO LUGAR

EM TODO LUGAR
Oswaldo Antônio Begiato
 
Em todo lugar
falavam de você.
 
Em todo lugar
havia um homem
que sonhava
com teu amor
eterno.
 
Em todo lugar
me disseram que você
só falava de mim.
 
Em todo lugar,
cheio de mim,
lhe amei
perdidamente.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

ILHÉUS

ILHÉUS
Oswaldo Antônio Begiato
 
Pescadores de maré baixa, pescadores de maré alta!
Tragam em suas redes preciosas
O fio negro da crina do cavalo Branco de Napoleão,
A ponta de dois gumes da estrela cadente,
A varinha de condão da fada sininho,
A moeda de ouro do pote sob a extremidade do arco-íris
Porque o por do sol se fará belo como Cleópatra
E me farei por ti, Ilhéus, apaixonado como um transeunte desassossegado.
 
Mario Quintana, o gaúcho, que a essa hora se esbalda de céu,
E pouco caso faz do tempo
Deixando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas,
Adoraria a Bahia.
- Na Bahia o tempo não tem a menor importância
Porque o céu chegou primeiro aqui, e aqui se rimou todo.
 
Ilhéus, Bahia, em 22 de agosto de 2.011.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

DESERTO

DESERTO
Oswaldo Antônio Begiato
 
Estou morrendo de sede,
Mas o que fazer,
Se o teu poço é fundo
E minha corda curta?
 
O que fazer,
Se o teu deserto é imenso
E meu caminhão pequenino?

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

PERDA DE TEMPO

PERDA DE TEMPO
Oswaldo Antônio Begiato

Para onde você pensa que vai?
Não sabe que todos
os caminhos
levam a Roma?

E quem tem boca
beija
e quem não a tem
ouve.

E quem tem um só olho
cativa a princesa
e quem não tem olho
vive só.

Ou beija a princesa e a desperta.

E quem tem pés
massageia as costas
e quem não tem
espera.

Uma canoa se faz com um pau só
e muitas mãos e muitos sonhos e muita coragem.

E quem fica muito
singrando mares
não conhece as terras.

Da terra se vem
a terra se vai,
mas é preciso cuidado;
nem tanto ao mar, nem tanto ao amar.

Como é doce amar no mar!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

FAZEDORA

FAZEDORA
Oswaldo Antônio Begiato
 
A melhor parte de mim
são as tristezas
que ainda não escrevi,
por medos, incertezas e inseguranças.
 
Não sei se as escreverei.
Não sei se vale a pena roteirizar
essa minha parte.
 
Gosto dela assim
porque ela
me é a parte desconhecida,
o lado escuro de minha alma,
jardim intocado
onde nascerão flores
e ervas daninhas
sob um sol que há de iluminar,
ou quem sabe,
de queimar. Só a mim. Só.
 
É o segredo meu essa minha parte,
que preciso descobrir
nas minhas horas de solidão,
nos meus lugares de abandono,
no sítio de meu isolamento
e que somente a dor da humilhação,
essa fazedora de sentimentos,
vai me fazer encontrá-la
no meio de um amor perdido,
no cume agudo de uma despedida.
 
E sei que quando
estiver frente a frente
com essa parte minha,
revelarei,
não a foto indecifrável
de meus questionamentos,
mas a luz quente
que vai inculcar
em minha alma
o roteiro escrito por mim
da película em preto e branco
dos meus tempos
de cinema mudo.
 
A produção será minha,
a direção será do acaso.
 
A plateia serei apenas eu.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

LÁGRIMA

LÁGRIMA
Oswaldo Antônio Begiato
 
Para eu fazer nascer
uma tristeza
eu preciso
de um caso sério
que me faça pouco caso.
 
No mais é só reclamo
que o vento espana,
que o tempo esgana.
 
Dor de amor é dor sem dor.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

ANGÚSTIA

ANGÚSTIA
Oswaldo Antônio Begiato
 
Para Niquinho, amigo de boteco.
 
Jaz aqui minh ‘alma desconsolada
Cujo corpo frágil partiu-se em muitos,
Cujo corpo partiu-se para sempre.
Jazo eu aqui, sem corpo e sem alma.
 
No contundente silêncio da morte
Jazem insepultos os pensamentos,
As flores semeadas pelo vento
E os vermes espertos comendo a carne.
 
No momento preciso foi-se a vida,
Carregando dentro dela os sonhos,
As esperanças bobas e as angústias.
Foi-se após um longo tempo de dor.
 
Sofrimento, deixai a morte em paz!

domingo, 19 de janeiro de 2014

PEDINDO PERMISSÃO

PEDINDO PERMISSÃO
Oswaldo Antônio Begiato

Com o perdão
da palavra
arrisquei-me em um poema
cheio de travessuras,
de confissões de amor,
de saudades,
de ternuras...

Ganhei um olhar longínquo
de uma menina doce
que mora à beira do rio
e nas costas do mar,
e como peixe silente
navegou minhas ilhas
e me fez arquipélago
inimaginável.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

ALGUNS OUTROS HAICAIS

HAICAIS
Oswaldo Antônio Begiato
 
BROTAÇÕES
 
A chuva na terra,
Sementes, cio e esperança.
Dos olhos enlevo.
 
INCONTIDA
 
Do canto a voz líquida,
Da palavra o sabor áspero;
Vã sinestesia?
 
MOVIMENTO DE ROTAÇÃO
 
Pela manhã sol,
À noite estrelas e a lua.
Ritual da luz.
 
VIDA E MORTE
 
Corpo deformado,
Oh, alma resiliente!
Tempo e eternidade.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

DURA PASSAGEM

DURA PASSAGEM
Oswaldo Antônio Begiato
 
A vida é feita de Sol;
Sol de boca pura,
Sol de pouca dura,
Banhada de manhãs;
Manhãs de fazer tremer.
 
A vida é feita de arames;
Alguns arames farpados,
Alguns arames esticados
E muitos outros bambos;
Bambos de fazer temer.
 
A vida é fila e a tristeza ilusão!
O resto é teatro.