domingo, 27 de julho de 2008

CONFISSÃO INSENSATA


CONFISSÃO INSENSATA
Oswaldo Antônio Begiato

Deixa-me fazer teu lado esquerdo
E deixar-te-ei me fazer o lado direito.
Deixa-me beijar teus lábios superiores
Com meus lábios inferiores
E assim beijarei com minha língua suja
A tua alma inocente.

Deixa-me fazer o teu destino certo
E deixar-te-ei me fazer o destino torto.
Deixa-me tocar tua pele transparente
Com minha pele maculada
E assim tocarei com meu inferno frio
O céu que Deus fez pra ti.

Deixa-me aceitar o teu perdão
E deixar-te-ei essa confissão insensata:
Eu te amo, meu incruento e sadio amor;
Não pelos pecados que me perdoas sempre
Mas pelos pecados que sempre me permites
Toda vez que eu te amo insensatamente.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

PRATO RASO


PRATO RASO
Oswaldo Antônio Begiato
.
o uísque triste
em riste
persiste
em não se misturar
ao guaraná magro
ao beiço amargo
ao beijo largo
à tatuagem
à imagem
à paisagem
no fundo
do prato raso
profundo
profícuo

o resto
é a companhia
amiga
do amigo
meigo
leigo de mim
para sempre

é natal
na tal infância
de bicho papão
de pão de fel
de papai do céu
de papai noel
que esquece a boina
sobre a mesa
sobremesa
e a mesa sobra
pobre e sóbria

mas a mesa
está posta
exposta
sem resposta

quinta-feira, 10 de julho de 2008

ABATIMENTO

ABATIMENTO
Oswaldo Antônio Begiato

Por aqui dizem que sou muito forte,
até me chamam de guerreiro
por conta de minha luta inglória
contra minhas apoquentações.

Mas a verdade é que sou frágil.
Sempre que posso
choro um pouco;
um pouquinho só,
feito cordeirinho
no instante do abate,
mas choro.

E porque me pediram
somente para sofrer
sou parco de risos
e pobre de alegrias;
já não tenho mais cascos
nas gengivas.

Um dia ainda
ferro-me a boca
com uma dentadura de ouro
e saio galopando sorrisos afora
no afã de destemperar
o lado feliz
de minha história,
posto que sou homem
de todos os tempos
e não tenho tempo algum.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

ÂNGELUS


ÂNGELUS
Oswaldo Antônio Begiato

Quando, pela vez primeira,
extasiado, te vi
entregue ao palmilhar
de um caminho torto
inventado pra ti,
de mãos dadas
contigo mesma,
sorriso casto
à procura de desvios,
tive a impressão que tua alma,
fugitiva de sua profissão,
brincava de profanidades
à tua volta enluarada,
feito uma filha obediente.

Não saía de perto de ti
por nada
e por nada não se recolhia
nem mesmo na hora
em que os sinos se dobravam
para anunciar o ângelus.

Quando te vi novamente,
obsequiosamente chegadora
com o diadema já delineado
e espargido,
o sorriso voluptuoso
e úmido;
e caído a teus pés
o pôr-do-sol,
apaixonado,
tive certeza absoluta:
- Tua alma te era a mais devota e obediente filha!